quarta-feira, 17 de junho de 2009

A QUESTÃO DO GAÚCHO: UMA IDENTIDADE IMAGINADA*


O que faz de nós nós ? Quais são as características que nos são naturais e quais nos são acrescentadas ao longo do nosso desenvolvimento social? Estes questionamentos vão além do nosso processo natural humano. Há no homo sapiens sapiens uma necessidade de inclusão, pertencimento, onde , a procura por um papel no meio social se faz tão necessário para sua própria sobrevivência quanto todos outros processos naturais como a alimentação, reprodução,etc.

Para que o homem se faça presente no meio social ele tenta encontrar em um determinado grupo características que se enquadrem em seu perfil, hábitos e valores, eis aqui o foco de nosso debate. Vamos tomar como exemplo o gaúcho e sua carga cultural, colocamos em cheque essa identidade cultural, até onde ele pode alcançar? E de que forma a mesma foi construída ao longo desses da história.

Partimos da premissa que, a questão da cultura tem um papel mais abrangente do que meros conjuntos de afinidades de um determinado grupo, ela organiza uma sociedade, mediante um discurso “um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos” (HALL, Stuart, 1997 p55). Para tanto, faz-se necessário uma gama de estratégias que influenciem esse grupo a tal ponto que o faça que afirmem, ou melhor, aceitem essas determinada representação - neste caso o gaúcho. A seguir citaremos algumas das maneiras que reforçam tal identidade.

Uma das principais formas de abrangência ideológica está inserida nas narrativas populares onde, a história oral entra em cena e mantêm vivas histórias de personagens mitológicos, aventuras espetaculares. Não podemos deixar de citar aqui uma outra forma de transmitir essa carga cultural, vindas de autores diversos através de suas literaturas poéticas e românticas. Analisando a historiografia do século XVII encontramos o termo “gaúcho” como um homem vil, que vivia errante pelos pampas sem leis que o regesse. Com o passar do tempo essa imagem do gaúcho fora sendo adaptada conforme o desenvolvimento do Estado, tentando uma homogeneidade societal, visando aproximar o “gaúcho” do cidadão moderno habitante do sul do país.

Outra forma de afirmação societal se encontra numa ênfase no símbolos que aludem a identidade gaúcha, como por exemplo o próprio hino Riograndense, a indumentária, a música, o próprio chimarrão. Cabe aqui uma observação, nosso objetivo com esse texto não é negar essa identidade e sim desmistificá-la, onde, o gaúcho em si não é somente o “taura dos pampas”montado em seu cavalo apealando novilhos, aquele que acorda cedo para matear e estivar suas ovelhas e exímio assador de churrascos , é também o cidadão envolto em um ecletismo, que mesclou identidades diversas e que mesmo assim não deixou de lado a questão do pertencimento.

Podemos ainda reafirmar essa identidade através do enaltecimento das glórias de um passado um tanto quanto distante e obscuro. Onde dá-se um valor especial as figuras que marcaram a história do “Estado gaúcho”, tomando com o exemplo os “herói” oriundos da Revolução farroupilha, não esquecendo que a história do Rio Grande do Sul sofre de uma forte influência positivista onde os valores societais estão embasados no histórico de “grandes personagens políticos”.

Outra estratégia é explicitada pelo Historiador Eric Hobsbawn chama de a invenção das tradições onde conjunto de práticas são repassadas de forma contínua de maneira a se criar um universo utópico reverenciando uma cultura fantasiosa .


Tradições que parecem ou alegam ser antigas são muitas vezes de origem bastante recente e algumas vezes inventadas... Tradição inventada significa um conjunto e práticas..., de natureza ritual ou simbólica que buscam inculcar certos valores e normas de comportamento s atreves a repetição, a qual, automaticamente, implica continuidade com o passado histórico adequado. “ HALL in: HOBSBAWN, Eric the inventon of tradition, 1983.











imagem do gaúcho tradicional”


Concluindo, as questões pertinentes a identidade gaúcha, suas tradicões e suas representações encontram-se em um patamar que vai além das fronteiras que o tradicionalismo “cetegesco” tem levado a discussões mais amplas visando identificar esse sujeito que hora é bandido hora é herói, essa figura ímpar no cenário cultural nacional que se construiu já no nosso mundo contemporâneo mas que tem suas origens numa sociedade moderna (questão temporal). Nosso objetivo aqui não é carregar nenhuma bandeira, muito menos destruir o que os grupos tradicionalistas tem defendido, queremos apenas refletir sob a visão histórica e social esse personagem quase mitológico, esse gaúcho que é representado não somente no Rio Grande do Sul mas também em outras “querências” à fora. Por fim, o objetivo foi tornar visível a questão cultural e como ela se relaciona diretamente com a crise identitária que a pós-modernidade tem trazido à tona em nossos tempos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem Somos Nós?

Minha foto
Russia
"A História da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes" MARX, Karl